Pular para o conteúdo principal

Vacina para Covid-19 desenvolvida na UFPR induz produção maior de anticorpos que a de Oxford em fase pré-clínica

 Jéssica Tokarski     

Os resultados da segunda imunização em camundongos feita com a vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) apontaram títulos de anticorpos comparáveis e até superiores aos reportados pela vacina ChAdOx1 nCoV-19, da parceria AstraZeneca/Oxford, em estudos na fase pré-clínica realizados em camundongos.

O título é uma medida da quantidade de anticorpos no soro sanguíneo que é obtida a partir de uma série de diluições crescentes do soro. É realizada para se observar a diferença entre a amostra imunizada e a controle, que recebe apenas as partículas sem a proteína do vírus. “Nós diluímos o soro 16 mil vezes e ainda podemos observar muitos anticorpos nessa diluição. Isso quer dizer que provavelmente teremos que diluir ainda mais para encontrar o ponto final, unidade em que normalmente os resultados são expressos”, revela Marcelo Müller dos Santos, professor do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da UFPR e um dos responsáveis pelo estudo.

Para comparar, os estudos de imunização em camundongos publicados sobre a vacina AstraZeneca/Oxford relatam títulos em torno de dez mil após 42 dias da aplicação de duas doses do produto. Isso quer dizer que o soro teve que ser diluído dez mil vezes para atingir o valor mínimo que ainda diferenciava a amostra imunizada da amostra de controle.

A vacina é feita a partir de nanoesferas de polímero, biocompatível e biodegradável, recobertas com partes específicas da proteína Spike. Foto: Marcos Solivan

O imunizante da UFPR mais uma vez se mostrou eficaz sem o acréscimo de adjuvante, substância utilizada para facilitar a resposta imune normal. As partículas do polímero bacteriano polihidroxibutirato (PHB), utilizadas pelos pesquisadores para inserir partes da proteína viral do Sars-CoV-2 no organismo, já apresentam a atividade de adjuvante, exacerbando a resposta imune em camundongos.

Foram injetadas duas doses de vacina, com intervalo de duas semanas entre elas, em um número maior de camundongos que no último experimento. A imunização é feita com partículas do polímero bacteriano polihidroxibutirato (PHB) recobertas com partes específicas da proteína Spike, que é a proteína que permite ao Sars-CoV-2 infectar nossas células. Após a aplicação, os anticorpos foram medidos no soro sanguíneo coletado dos camundongos.

Após a aplicação de duas doses do imunizante, os pesquisadores coletam sangue dos camundongos para verificar os títulos de anticorpos produzidos. Imagem: Sucom/UFPR

Micro e nanopartículas

Os experimentos foram realizados com micropartículas e com nanopartículas, uma diferença de tamanho de aproximadamente mil vezes entre as duas. A conclusão é que as nanopartículas são mais viáveis por causarem menos incômodo no paciente e porque possivelmente melhoram a resposta imune. “Temos a expectativa de que as nanopartículas consigam chegar a setores do nosso sistema imune que as partículas maiores não são capazes. Mas, até o momento, os dois sistemas testados funcionam muito bem”, explica Santos.

O projeto tem financiamento do CNPq, em parceria com o MCTIC. Foto: Marcos Solivan

Imunização nasal

Esta fase também testou a imunização por via nasal para descobrir se a forma de administração é capaz de estimular o sistema imune sistêmico a produzir anticorpos do tipo IgG, que participam da defesa contra a invasão de antígenos. De acordo com o pesquisador, não foi possível detectar esse tipo de imunoglobulina, provavelmente porque o método induziu a produção de anticorpos do tipo IgA, principal imunoglobulina presente nas membranas mucosas. “Se isso se confirmar, será muito interessante pois, por conta da forma de entrada do vírus no organismo, é uma ótima forma de enfrentamento ao Sars-CoV-2”. O professor Breno Castello Branco Beirão, do Departamento de Patologia Básica, também integra a equipe e está medindo os títulos de anticorpos gerados por esta via de imunização. Entre eles, o do tipo IgM, imunoglobulina que é produzida após a exposição a um antígeno.

Próximos passos

Os próximos testes pretendem descobrir se os anticorpos produzidos pela imunização têm efeito neutralizante, isto é, se eles impedem que o vírus interaja com os receptores das células. “Digamos que uma pessoa tenha, no organismo, anticorpos com potencial para reconhecer o coronavírus. Se a pessoa for infectada e esses anticorpos reconhecerem rapidamente o coronavírus e se ligarem aos receptores do vírus antes que eles reconheçam os receptores das células do organismo, há o efeito neutralizante, pois provavelmente o vírus não conseguirá infectar células do trato respiratório”, exemplifica Santos. Os pesquisadores acreditam que, pela quantidade de anticorpos presente no sangue imunizado, as chances de que tenham esse efeito neutralizante são muito boas. “Se demonstrarmos essa capacidade, podemos pensar seriamente na fase um de testes clínicos”, avalia.

Também há a intenção de diminuir a carga de antígeno nos próximos experimentos. Atualmente o estudo trabalha com doses de 50 microgramas de proteína, mas os especialistas acreditam que é possível reduzir pela metade essa quantidade, o que resultaria na produção do dobro de vacinas com a mesma quantidade de antígenos. Aliando isso à vantagem que já existe de não precisar de adjuvante, a vacina desenvolvida na UFPR seria muito mais econômica que as demais existentes no mercado.

Emanuel Maltempi de Souza, professor do Departamento de Bioquímica, indica outro fator importante que a equipe deseja analisar: o momento em que a resposta imunológica aparece no organismo. “Queremos ver também se essa resposta não desaparece após algum tempo e se o título de anticorpo permanece alto. Nosso objetivo, nesse momento, é definir a melhor fórmula e a durabilidade da resposta”.

A ideia é finalizar os testes pré-clínicos na metade de 2021. “Já os testes clínicos escapam um pouco do nosso domínio porque precisaríamos de parceiros. É necessário ter suporte, principalmente de alguma indústria farmacêutica que domine boas práticas de fabricação para assegurar que a preparação segue essas normas e garantir a aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)”, comenta Santos.

Alternativa de vacina

Para Souza, há grandes chances de que o vírus Sars-CoV-2 permaneça em circulação, o que exigiria que a população fosse vacinada periodicamente. “Se realmente houver essa necessidade, novas formulações vacinais, fórmulas menos agressivas e mais baratas serão importantes. Não descartamos a possibilidade de que essa preparação seja utilizada para a Covid-19, mas também é possível desenvolver outras vacinas usando essa mesma tecnologia”.

A partir dessa tecnologia, é possível preparar bibliotecas de antígenos de outros vírus e de patógenos bacterianos e fúngicos, visando à imunização contra outras doenças. Foto: Marcos Solivan

Ele comenta que a plataforma tecnológica vacinal criada na UFPR, cuja forma de ligar o antígeno à nanopartícula é diferente, é inovadora e relativamente barata se comparada com outras existentes no mercado. “Todas as vacinas disponíveis contra a Covid-19 foram desenvolvidas a partir de uma plataforma de vacina que já estava pronta. Os cientistas aplicaram o que conheciam sobre fazer vacina contra coronavírus e hoje temos um recorde de tempo que dificilmente será batido no desenvolvimento de uma vacina”.

Saiba tudo sobre as ações da UFPR relacionadas ao Coronavírus

Fonte:https://www.ufpr.br/portalufpr/noticias/vacina-para-covid-19-desenvolvida-na-ufpr-induz-producao-maior-de-anticorpos-que-a-de-oxford-em-fase-pre-clinica/

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Atleta de Curitiba traz ouro para Curitiba no Campeonato Paranaense de Karatê

Sophia de Macedo disputou no sábado, dia 21/10, em Paranavaí, a terceira etapa do Campeonato Paranaense de Karatê. Ganhou ouro em sua categoria. Sendo a vencedora das três etapas trouxe para Curitiba o troféu de campeã da categoria Kata. A atleta é autista e tem  TDAH e disputou sem categoria especial. Aluna do Colégio Estadual Gabriela Mistral mostrou que inclusão, respeito, estímulo podem levar a todos os interessados longe. A Academia de Artes Marciais Fernandes deu a atleta a oportunidade de disputar de igual para igual tanto no Campeonato quanto nos treinamentos, não fazendo diferença entre atletas neurodiversos e neurotípicos. Sophia de Macedo é campeã em karatê e inclusão. Sensei Lauro Fernandes Jr. e Sophia de Macedo

Trifil inaugura maior loja exclusiva da marca em Curitiba no Jockey Plaza Shopping

Com quase 60 anos de história, a marca está presente em mais de 20 mil pontos de vendas no Brasil e é conhecida pelo conforto e qualidade de seus produtos O Jockey Plaza Shopping conta agora com a loja Trifil, a maior loja exclusiva da marca em Curitiba. Com quase 60 anos de história, a Trifil possui uma linha completa para adultos e crianças, sendo conhecida principalmente pelo conforto e qualidade de seus produtos. Hoje, a marca está presente em mais de 20 mil pontos de vendas no varejo em todo o país e já possui 90 lojas que comercializam exclusivamente os produtos.O conforto, aliado à qualidade dos produtos, vai ao encontro daquilo que os consumidores buscam, especialmente as mulheres, quando procuram uma lingerie para vestir no dia a dia. "Não queremos chegar em casa com um sutiã ou calcinha que nos machucou ou apertou. É para isso que a Trifil trabalha, para que você se sinta confortável e segura", afirma a proprietária da loja, Caiti Skroch, que também está à frente da...

MeuNominho lança pulseiras de silicone personalizáveis

O e-commerce  MeuNominho  acaba de lançar as pulseiras de silicone personalizáveis. Mais que um acessório de identificação, a pulseira é um item de segurança que pode ser usado durante viagens e passeios com aglomerações. É também indicada para crianças e adultos com condições médicas como epilepsia, diabetes, alergias, asma, entre outras. Com duas linhas de personalização, tanto interna quanto externa, é possível adicionar informações importantes como nome completo, telefone, tipo sanguíneo ou outros dados de relevância para os responsáveis.O lançamento está disponível em duas cores, rosa e azul, com cinco tamanhos diferentes, que se adaptam em crianças e adultos. As pulseiras são reutilizáveis, laváveis, antialérgicas e à prova d’agua. O e-commerce  MeuNominho.com.br , especialista em etiquetas escolares, produz etiquetas adesivas, que podem ser usadas em materiais escolares e em objetos que precisam ser levados para a creche. Para identificação de roupas, a MeuNominho ...